segunda-feira, 9 de março de 2009

Perdão


"O perdão é um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa, decorrente de uma ofensa percebida, diferença ou erro, ou cessar a exigência de castigo ou restituição (…) O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração, é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação..."

Fonte: Wikipedia

"Esquecimento completo e absoluto das ofensas…" Sabem aquela sensação que todos temos quando vivemos a nossa vida rodeados de algumas certezas absolutas e de repente, acontece algo que nos faz questionar aquilo em que acreditávamos?
Foi o que eu senti ao ler esta definição de perdão… aliás, senti-me a personificação do filme "Quem tramou Roger Rabbit"… ou numa versão adaptada "Quem tramou Sylvie Pereira" ;-)
É que com esta definição, a Wikipedia vem simplesmente riscar da minha lista pessoal de virtudes a importante capacidade de perdoar!
Consigo, sem dúvida, ultrapassar o ressentimento, consigo aceitar sem reservas um pedido de desculpas, consigo inclusive dar um abraço sentido à pessoa que me fez mal, mostrando (em alguns casos) que valorizo demasiado a sua presença na minha vida para guardar rancor, mas esquecer a ofensa? A menos que me façam uma lobotomia, como esquecer algo que já vivi e que obviamente, foi marcante, uma vez que justificou um perdão (ou o que quer que lhe deva agora chamar?)? Como banir da memória algo que mexeu comigo?
Aliás, esta definição pressupõe que o esquecimento depende da nossa vontade quando, na verdade, todos vivemos momentos de desagrado, aparentemente insignificantes, que relevamos, que até julgamos esquecidos e não achamos importante mencionar na altura. Mas, curiosamente, após uma série de pequeninas ofensas igual a essa, a memória encarrega-se de nos lembrar a reincidência da ofensa e tudo ganha uma nova proporção que, essa sim, irá exigir um pedido de desculpa da outra pessoa ou uma mudança de atitude, já que afecta o nosso bem-estar.
Que namorado, companheiro ou marido não se queixa dessa faculdade extraordinária que nós as mulheres temos de ir desenterrar episódios do passado para reforçarmos uma acusação ou uma manifestação actual de desagrado ou mágoa? Quer isso dizer que nenhuma mulher consegue realmente perdoar? Não, rapazes, … apenas quer dizer que interiorizamos de forma diferente aquilo que nos acontece e, quando necessário, a nossa memória encarrega-se de lembrar a quem precisa, aquilo que gostamos ou não gostamos que nos façam.

Atrevo-me, por isso, a contestar esta definição de perdão da Wikipedia...atrevo-me a dizer que o esquecimento nada tem a ver a capacidade de perdoar; se nos esquecêssemos completamente das ofensas, estaríamos sempre expostos e permeáveis a renovadas ofensas. Não conseguiríamos pôr um ponto final numa sequência de abusos, por exemplo, pois dependeríamos unicamente da vontade da outra pessoa para não reviver essa experiência.
Haveria até uma espécie de consentimento e passividade da nossa parte em relação ao mal que nos fazem. Não é essa a atitude do masoquista ou das pessoas que têm uma postura vitimista e que aceitam todo o mal que lhes acontece sem se rebelarem, sem nunca reclamar?
Perdoar sim, quanto a esquecer…esqueçam! :-P

6 comentários:

YellowMcGregor disse...

Como disse aquele que personificou, em rigor, os ensinamentos do cristianismo(S. Francisco de Assis):
"Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;"
Perdão sim... esquecimento, não.
Pois eu concordo plenamente com o teu ponto de vista. Independentemente de qualquer "guerra dos sexos", penso que não haverá homem ou mulher, no absoluto controlo das suas faculdades, que não pense igualmente assim e que "na hora da verdade" não deixam de desenterrar essas memórias... Ah! Excepto o iluminado que deve ter escrito (ou traduzido mal... upsss que tal umas "liçõezitas"? LoL) aquilo na Wikipédia.
Com um ramo de :-)

Sofisga disse...

Concordo! Quem diz que uma coisa anula a outra ou que uma não pode coexistir com a outra? É claro que quando decidimos colocar uma pedra sobre o assunto e prosseguir com as nossas vidas, essa lembrança tende a esbater-se e a ficar como que adormecida mas não chega a desaparecer por completo quando foi algo que nos marcou verdadeiramente, fica ali arrumada naquela prateleira do fundo em que não queremos voltar a mexer mas sabemos que está lá. Afinal de contas, a lembrança faz apenas parte da condição humana, a par do perdão.

myguiltyself disse...

Eu não perdoo e também não esqueço. Tenho é outras prioridades...

Anónimo disse...

Eu acrescentaria ainda que o perdão depende da dimensão do "pecado"...Ihihhhihi

Beijinhos,
Sandra S.

YellowMcGregor disse...

Perdoar… sim.
Esquecer… não!
Perdoo com o Coração,
Mas recordo com a Razão
Porque se é ofensa, marcou;
Como ferida que sarou,
Mas cicatriz irá deixar,
Para um dia nos fazer lembrar.
Perdoar? … sim, perdoo.
Mas esquecer? Nem pensar!
Consigo mesmo, desculpar
E àquela pessoa me abraçar
Com um sentido perdão.
Mas esquecer… esquecer, não!
Perdoar…
Perdoar é divino.
(e eu não me rogo a tanto)
Mas esquecer?
Só se ficar sem tino.
E eu até posso perdoar,
Mesmo àqueles que não o mereçam…
Porque
“Perdoar sim, quanto a esquecer…
Esqueçam!”

Com um ramo de :-)

Lily disse...

Posso perdoar mas depende da situação. Pequenas falhas? Claro, todos as temos e, como tal, é preciso haver compreensão. Situações mais complicadas? Isso lamento, mas se for algo demasiado grave sou mais radical e corto o mal pela raiz...

Sejam pequenas ou grandes falhas, até se pode perdoar, agora esquecer... jamais!