domingo, 5 de abril de 2009

Navegador solitário, João Aguiar

Aqui está um livro que recebi de presente de Natal em 2003 e que desisti de ler nos transportes públicos porque só me ria nas primeiras páginas e as pessoas ainda podiam pensar que era louca.
Devo dizer que sou de alguma forma solidária com este desabafo do Solitão...pois, digamos que padeço do mesmo mal...embora ainda hoje adore a minha madrinha e nunca lhe tenha chamado nomes, lol
Papin, peço que contenhas o teu primeiro impulso e não comentes da forma que te apetece comentar...tu ou qualquer uma das pessoas na posse dessa informação!!!

Assim começa o livro...

"Eu hoje faço quinze anos mas era melhor que não os fizesse. Tive um dia lixado e pra começar o meu velho obrigou-me a trabalhar no restaurante a servir os almoços e eu nunca gosto de lá trabalhar mas no dia dos anos é pior que nos outros dias e depois a velha não me deixou sair à noite com o Angelino e a outra malta porque apareceram visitas e no fim de tudo ainda tive de começar a escrever esta merda do diário ou lá como lhe chamam e eu não gosto nada de escrever não me importo de ler porque há a Bola e há os livros de caubóis mas escrever isso é mesmo contra vontade porque é uma chatice e a gente ainda tem de pôr vírgulas mas eu vírgulas não vou nessa não ponho que se lixe.
Mas escrever tenho mesmo de escrever porque esta noite apanhei um cagaço tão grande que me ia borrando todo e eu vou explicar o que foi e a culpa é toda da minha madrinha que é uma vaca e eu nunca gostei dela a começar porque foi ela que escolheu o meu nome.
A minha madrinha chama-se Maria Preciosa do Rosário e na certa acha que toda a gente deve ter nomes foleiros porque o dela também é foleiro e por isso quando fui baptizado ela teimou que eu havia de me chamar Solitão que é um nome que não existe e até parece que houve barraca da grossa no Resisto porque o homem disse que não podia pôr um nome desses não é permitido e a Preciosa começou a discutir e a minha mãe a ajudar e diz que a confusão era tal que iam já chamar a polícia e então felizmente o meu velho conhecia um gajo importante lá no Resisto e só para não ter chatices por causa da velha e da Preciosa foi falar com ele e convenceu-o a deixar e depois se fosse preciso dizia-se que tinha sido um engano e pronto.
E então eu fiquei mesmo Solitão e foi por causa da minha madrinha mas não é só isso há também outra história e que é esta ela escolheu o meu nome por ordem dos espíritos porque a madrinha Preciosa diz que é médio eu não sei bem o que isso seja e médios só conheço no futebol mas parece que há outros médios e a madrinha é desses e tem uns trânsitos como ela lhes chama e nessas alturas os espíritos dos mortos entram nela e falam e um dos espíritos que entram dentro é o do meu avô Aquelino que morreu antes de eu ter nascido.
Os velhos bem podiam ter-me arranjado outra madrinha por exemplo, a Vanessa do cabeleireiro que ainda é nova e é boa comó milho mas a Preciosa é amiga da minha velha desde pequenina e são comadres e todas essas merdas de modo que foi ela a madrinha e eu é que me lixei com isso (...)"

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma sugestão de leitura neste espirito (resta saber se apanhei bem o espirito da coisa) é "Angustia para o Jantar" de Luís de Sttau Monteiro.

Sylvie disse...

Pedro, estou convencida...agora, já sei que uso dar a uns cheques Fnac que me ofereceram ;-)
Obrigada pela sugestão, é sempre bom...Mas olha, se não gostar, peço ao Papin a tua morada, lol.
Jinhos

Anónimo disse...

Comprar livros na fnac? que péssimo gosto com tantos sítios bons que há para comprar bons livros e logo vai escolher essa porcaria chamada fnac